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O Regresso

“O regresso é um filme do diretor Alejandro Iñarritu que narra a trajetória do mito de Hugh Glass um caçador de pele que é deixado por seus companheiros quando é atacado por um urso, porém sobrevive em busca de vingança”. Com muita certeza é uma descrição que não faz jus ao filme, pois a verdadeira narrativa apresenta uma grande trajetória de angústia da própria humanidade.



O filme utiliza-se de diversas metáforas visuais para compor a narrativa, logo no inicio percebe-se umas das principais temáticas: a natureza contra seres humanos, porém não de uma forma bruta e clichê, utiliza-se aqui como algo, que ironicamente, é natural. No primeiro instante o titulo do filme se apresenta contra a correnteza de um riacho que segue seu curso ao lado oposto da câmera e das personagens, de fato, apresenta uma importante questão filosófica: “estaríamos nós, como humanidade e sociedade, indo ao nosso estado natural?” a resposta é um seco não.


O primeiro ato do filme é grandioso, filmado em um plano sequencia de alguns minutos, retrata uma batalha estonteante, muito pelo fato da câmera ficar abaixo das personagens, dando uma sensação de impotência perante o ataque indígena, em que flechas, sangue e gritos surgem da floresta. De fato, os indígenas representam a natureza, afinal nativos de todas às Américas e a África sofreram e ainda sofrem pelo estupro das colonizações. Inãrritu traz a tona esse sentimento coletivo representado na cena de abertura e ao longo da narrativa, colocando a câmera entre a situação, proporcionando uma das maiores e melhores imersões.


A percepção da natureza como algo vivo assim como um organismo é preponderante e muito bem representada no famigerado ataque da mãe ursa à personagem de Leonardo Di Caprio, o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki (um verdadeiro artista), enquadra as árvores como gigantes além da compreensão humana, e seguido de outra impressionante sequência o ataque visceral do urso, que se demonstra uma grande batalha entre o ser humano, que aparentemente vai ao oposto de seu estado natural, contra um instinto genuíno que é uma mãe protegendo seus filhotes. Obviamente o conceito de natureza humana é uma discussão muito mais abrangente, porém a narrativa retrata quais são as suas raízes perante o mundo, e o que te mantem forte e existindo como ser.



É incrível entrega de Leonardo Di Caprio a Hugh Glass, e o diretor sabendo disso, deixa seu ator encher a tela com uma brilhante atuação, que não é exagerada ou apelativa a implorar por um premio, pelo contrário, é na medida certa, contida em uma atuação de grunhidos, dor, angustia e vingança. Tom Hardy é o antagonismo a Hugh Glass, John Fitzgerald recebe uma atuação traumatizada de um homem quase escalpelado pelos nativos no passado, Hardy se prova como um dos grandes atores de sua geração, porém, o antagonismo a Hugh Glass, não é tão explorado quanto poderia, Iñarrito tentou imitar Terrence Malick no segundo ato.


O segundo ato é o mais problemático de todo o filme, não que se trate de algo desastroso, afinal trata-se de um grande filme, mas alguns caprichos do diretor foram extrapolados, Talvez por trabalhar com Emmanuel Lubezki novamente, que comandou a fotografia de “Árvore da Vida” junto com Terrence Malick, Inãrrito comete equívocos por às vezes “fugir” da temática principal, a quem diga que ele se aprofundou na relação da familiar de Glass, porém há sequencias, como símbolos religiosos ligados aos indígenas, sequências de sonhos com a falecida mulher, enfim cenas de grande exposição de câmera que se apresentam destoantes da narrativa, mas impulsionam o ego do diretor tentando misturar tons de filmes filosóficos, de consciência histórica, arte e ação. Em “Birdman” (2014) é bem equilibrado o tom de humor com a reflexão do querer ser amado, porém em “O Regresso”, a mistura não ocorre tão bem.



O terceiro e ultimo ato, utiliza-se de um desfecho um pouco previsível da trama superficial, que seria a “busca pela vingança”, contudo “O Regresso” encerra a discussão mais subjetiva: “o que te mantem seguindo em frente e existindo”, todo o sentimento angustiante passado em todo o filme por Glass, exprime o sentimento humano perante sua própria jornada, e o que ela significa para a sua existência. No caso de Glass, sua família é o único fator que o motiva a existir e continuar, e quando ele encontra a sua esposa em uma alucinação nos últimos minutos de filme, sabe que suas raízes nunca serão destruídas nem mesmo pela morte, afinal, a primeira cena do filme a “raiz” não foi destruída nem pelo vento mais forte, uma frase da esposa de Glass (é interessante lembrar-se da árvore que se apresenta constantemente em alucinações), logo, o olhar diretamente fixo a câmera e todos os espectadores, perguntando “o que te mantém vivo e existindo?” ou talvez “quais são suas raízes?” lembrando muito o final de 2001: Uma Odisseia do Espaço.


Enfim, acredito se Inãrrito manter esse nível alto, um dia (quem sabe) será considerado um dos grandes diretores dessa geração, e o melhor de tudo, teve a oportunidade de dirigir o filme que finalmente dará o Oscar merecido a Leonardo Di Caprio.


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